sábado, 19 de setembro de 2009

Pepeu e Eu

Paixãozinha é uma merda. A gente acorda e fica se sentindo o foda. Fitei duas vezes com a vizinha e até pensei em levar o fusca pra passear de coleira. Mas eu também tenho consciência e sabia era uma puta chantagem enforcar o bicho na rua pra correr atras daquelas coxas. Não tinha porque ter pressa, de noite tinha uma das centenas de festividades que o judeu do quinto andar patrocina e a Santa havia prometido não aparecer. Era quinta feira e o bingo comia solto na sede da AABB.

O judeu, meu messias, não brincava em serviço. Sabia como ninguém organizar uma esbórnia. Aliás, foi por ele que eu havia logrado aquele muquifo da praça Roosevelt. Tinha acabado de ser contratado por uma firma que fabricava luz fosforescente e nos conhecemos porque dividíamos uma Samantha aos fins de semana. Naquela altura eu ainda não tinha arruinado os sonhos da minha mãe nem desencanado da minha fobia de rejeição. Foi num fim de tarde que o Pepeu, judeu cearense, e Samy anunciaram o noivado. Ela largara a promissora carreira pra vender pão de queijo e fomentar a discórdia na Roosevelt e ele, com toda culpa que um judeu pode ter, me ofereceu um apartamento no mesmo prédio.

- Éramos que nem família agora - mas eu nunca fui o mesmo.

Samy morreu dois anos depois atropelada por uma kombi, e Pepeu iniciou (mais uma) tradição de lembrar a falecida com putarias memoráveis em diversas datas comemorativas. Eu ia por remorso, pelos velhos tempos e respeito a nossa Samy mas agora eu também tinha a Sol.

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